Heidegger e a Fenomenologia como Explicitação da Vida Fáctica

Comments (0) Paulo Evangelista

Resumo

 

A publicação das Obras Completas de Martin Heidegger tem oferecido aos estudiosos novos elementos para que se considere sua trajetória intelectual. Esta começa na teologia e desemboca na filosofia. No começo da década de 1920, ele compartilha com Husserl que a filosofia, que se encontra enredada em confusão com as ciências objetivas, só pode ser fenomenologia. Diverge de seu mestre, entretanto, em que a fenomenologia não se limita à descrição da consciência. Ela é explicitação da “experiência de vida fáctica” (faktische Lebenserfahrung).

Nos estudos de cunho teológico, Heidegger descobrira a questionabilidade da vida concreta de cada qual. O conhecimento teórico, que anima a filosofia de sua contemporaneidade e cuja origem ele encontra na filosofia grega, mostra-se incapaz de tematizá-la. A “experiência de vida fáctica” não é objetiva, de modo que necessita de um novo método para ser tematizada. A fenomenologia é esse método.

No presente estudo, destaca-se o curso ministrado no semestre de inverno de 1920-21, intitulado “Introdução à Fenomenologia da Religião”, no qual Heidegger demonstra a incapacidade da filosofia contemporânea de acessar a experiência de vida fáctica do cristão primitivo contida nas Epístolas Paulinas. Com a fenomenologia, a experiência religiosa proto-cristã pode mostrar-se. Trata-se de um modo de viver pelo qual se luta contra a tendência a encontrar ilusório asseguramento nas experiências quotidianas. O cristão é aquele para quem o fim dos tempos já se faz presente desde a conversão; esta sendo sempre atualizada. Heidegger encontra nisso uma temporalidade diferente e inacessível à teoria, que só conhece o tempo cronológico. É a temporalidade kairológica, própria da experiência de vida fáctica. A metafísica revela-se, assim, um modo de buscar asseguramento.

Neste estudo, contextualiza-se o curso no momento histórico de vida de Heidegger, pois filosofia e vida imbricam-se. Em seguida, apresenta-se o exercício que ele realiza para demonstrar a originalidade da experiência de vida fáctica e a neces­sidade de a filosofia ser capaz de retornar a essa sua origem. Para isso, mostra-se 1) uma breve descrição da “experiência de vida fáctica”, 2) a “indicação formal” como conceito fenomenológico capaz de tematizá-la e 3) a filosofia e as ciências como possi­bilidades dela. Por fim, realiza-se com Heidegger a interpretação das Epístolas Paulinas, a fim de compreender a vida fáctica do apóstolo tal como se apresenta a partir dele, e não de teorias previamente concebidas. Com isso, é a vida humana que se desvela. Essa é a tarefa da fenomenologia.

 

Palavras-chave: fenomenologia; experiência de vida fáctica; Heidegger; São Paulo
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